(Baseado em uma história real)
Estava escurecendo e o camping – recém inaugurado – ainda não tinha todas as instalações elétricas concluídas mas, mesmo assim, muitos hóspedes ainda estavam na piscina depois do anoitecer. Alguns nadando, outros apenas se refrescando do calor, todos em uma escuridão total que fazia do céu estrelado um espetáculo para quem estava ali naquela noite.
Era verão de 1995 e o camping tinha iniciado sua operação recentemente e recebia ainda poucos hóspedes. A área total do terreno corresponde a três campos de futebol e, neste espaço, os campistas chegavam com suas barracas para vivenciar a experiência de passar alguns dias tendo mais contato com a natureza.
O camping tinha estrutura básica como banheiros masculinos e femininos com iluminação e choveiro quente. Além disso, uma cantina com lanches e refeições atendia os menos preparados para a aventura de acampar. Tirando essas estruturas, todo o resto do terreno não contava com pontos de luz já que 90% do total era coberto por árvores altas e cheias de folhas e galhos. Assim, o camping fornece sombra para os acampamentos e mantém os visitantes protegidos do sol.
No meio de tantas árvores, só havia um local descoberto – e também sem iluminação – com vista completamente limpa para o céu: a piscina. Todos os dias, desde de que chegamos ao camping, ficávamos na piscina até depois do anoitecer.
Jogávamos pique-baleia na piscina, um jogo que consiste em um ‘caçador’ que fica no centro da piscina enquanto as ‘baleias’ precisam atravessar de uma borda até a outra sem serem tocadas pelo caçador. Mais uma vez ficamos jogando o pique-baleia até escurecer porque a escuridão da noite com a falta de iluminação, o jogo passou a ficar muito mais emocionante. Principalmente porque debaixo d’água não dava para enxergar quase nada.
Nos preparávamos para atravessar a piscina até a outra borda mais uma vez e a distância de 20 metros facilitava a travessia quase toda de forma submersa. Isso dificultava ainda mais a brincadeira e juntando com o escuro absoluto o pique-baleia se tornou, aos poucos, uma tarefa quase impossível e entediante.
Antes que o breu total debaixo d’água acabasse com o jogo de uma vez por todas, vivenciamos algo difícil de esquecer e, principalmente, de explicar para as pessoas depois. Enquanto eu nadava submerso de olhos abertos em direção à outra borda sem enxergar nada, vi a escuridão do fundo da piscina se transformar em dia numa fração de segundo. Foi como um feixe de luz iluminando toda a piscina, de cima para baixo. Pudemos ver nitidamente onde estava o ‘caçador’ assim como ele claramente nos via também dentro da água.
Nesta fração de segundo em que um flash fez a noite virar dia debaixo d’água, a primeira reação de todos foi subir à superfície. Olhando para o céu, parecia que uma das estrelas havia descolado do céu e estava sem rumo. Enquanto isso, dentro d’água, enfileirados na borda da piscina, ficamos totalmente paralisados vendo um brilho no céu que fazia movimentos aleatórios e sem direção. Durante cerca de cinco segundos, uma estrela literalmente dançou diante dos nossos olhos e, em seguida, sumiu deixando um rastro semelhante ao de uma estrela cadente.
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